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A dor é sempre algo ruim e por mais que haja imensa informação disponível, a verdade é que ainda há muitas pessoas que não conseguem definir o que é dor crónica, ou mesmo distinguir a dor aguda da dor crónica. Será que a diferença pode estar ligada à sua duração, intensidade, origem?

Sabe qual é a diferença?

Vamos aos detalhes.

A dor aguda é aquela que se mantém ou se repete por menos de 3 meses. Além disso, este tipo de dor tem um papel protetor de fundamental importância para a nossa sobrevivência, equilíbrio e preservação da integridade das estruturas.

A dor crónica é aquela dor que se mantém ou se repete por mais de 3 meses.

Neste caso, este tipo de dor deixa de ter o papel de proteção e é entendida atualmente como uma doença (ICD-11) per si chamada de primária quando não existe uma relação de causa-efeito para o seu aparecimento, o que é diferente da dor crónica secundária, que se manifesta devido à preexistência de uma doença de base (por exemplo um tumor) ou alteração de estruturas ou tecidos importantes.

É importante salientar que, no caso dos pacientes portadores de dor crónica, os mesmos não têm de apresentar sintomas de dor todos os dias, uma vez que existem 3 sub-categorias temporais de dor crónica:

Dor continua (sempre presente);
Dor recorrente (momentos em que a dor está presente e outros em que desaparece);
Dor continua + flare-up (dor sempre presente + episódios de crise).

O que é dor crónica, afinal?

Vamos entender de uma vez.

Depois de saber as informações acima, podemos reconhecer que a dor pode ser entendida de duas formas:

a dor “boa” – que está lá para sinalizar e tem a finalidade de proteger.

…E então o que deve o paciente fazer nestes casos?

Esta dor deve ser acompanhada e gerida para que o curso natural da mesma a conduza a um desfecho positivo que se traduza no seu desaparecimento. Nem sempre é necessária a intervenção osteopática para que isso aconteça.

a dor “má” – esta dor pode ser uma “dor boa” que não foi resolvida e deixou de ter uma finalidade protetora.

Em muitos dos casos, a dor “má” é uma má-adaptação a algo que não foi tratado e está associada a disfunções que impediram a auto resolução.

…E nestes casos, o que deve fazer o paciente?

Nestes casos, a intervenção de um profissional poderá ser preponderante para a sua resolução.

Vamos a alguns exemplos.

Um exemplo de “dor boa” é aquela presente após uma entorse no pé. A dor aparece porque pode ter havido lesão nos tecidos e há necessidade de os tecidos se repararam e a dor faz-se presente durante algum tempo para não cairmos no erro de executar movimentos que coloquem em risco o trabalho que a “farmácia” do nosso corpo se encontra a fazer para resolver o problema, daí ter um papel de proteção e é fundamental para a sobrevivência.

Um exemplo de “dor má” é quando ao fim de 6 meses ou anos, sentimos que nunca mais fomos os mesmos após esse episódio. Isso pode acontecer, por exemplo, quando uma senhora fica com medo de usar saltos altos, porque desde aí (o momento em que torceu o pé) não aguenta mais do que alguns minutos sem dor. Ou então, uma dor lombar que está sempre a “moer” ao fundo das costas mas na realidade nunca passa definitivamente e em alguns casos nos leva a momentos de crise.

Essa é uma dor má e tem de ser tratada! É uma má adaptação e todo o nosso sistema de movimento entra em compensação para (tentar) fugir dela o que leva por vezes a novas queixas.

Se está na dúvida se a sua dor é uma dor aguda ou crónica, uma referência interessante, mas longe de ser infalível, é que a dor aguda normalmente tem um início muito bem definido. A pessoa tropeçou, caiu e magoou-se. Ou então foi levantar um objeto do chão e as costas “bloquearam”. Essa é uma dor aguda e altamente incapacitante. No entanto, no caso do segundo exemplo também poderá ser um momento de crise de uma dor crónica já instalada em outro momento.

A dor crónica, maioritariamente não tem um início muito definido e a dor experienciada pelo paciente já lhe é familiar. No entanto, nem sempre é tão linear: existem dores crónicas que acontecem na sequência de um evento muito bem definido como, por exemplo, alguém que foi submetido a uma cirurgia e que a partir daí os sintomas modificaram, mas não desapareceram. Esse é mais um dos exemplos de dor que merece ser avaliado e tratado.

Aquilo que muitas vezes é difícil de entender e acaba por levar os pacientes ao desespero e os profissionais de saúde a adotarem condutas impróprias para o tratamento da dor, é que há uma associação da dor crónica com a alterações nos tecidos. Tal é uma hipótese não é correta e não resiste ao escrutínio do método científico! Os estudos mais recentes mostram que não há relação do estado do tecido e a dor que o paciente experiencia.

Assim sendo, o pensamento recorrente de: “Sinto dor! Devo ter um desvio na coluna ou uma hérnia…”, está na maior parte das vezes errado porque nem sempre é uma relação entre dor e alteração nos tecidos (músculos, ligamentos, discos…). E tem mais. Em mais de 90% das vezes os exames apresentam alterações que não correspondem aos sintomas que o paciente tem. Tais sintomas – de dor – devem ser, em primeiro lugar, interpretados na consulta e após o exame físico, caso persistam dúvidas que possam alterar o decorrer do tratamento, aí sim poderão ser solicitados exames de imagem, que na maior parte dos casos servem para excluir condições clínicas e não para as diagnosticar.
 

Como pode uma dor aguda tornar-se crónica? 

Já falamos anteriormente a diferença entre dor aguda e dor crónica e já percebeu que a dor crónica pode ser uma dor aguda que não foi tratada, correto?

Vamos ver com mais detalhes sobre isso.

Existem alguns os fatores – biopsicossociais – que podem preceder a dor crónica. Aqui vamos citar alguns a que os pacientes devem estar atentos e caso seja necessário procurar ajuda se perceberem o risco de o problema se tornar crónico ou mesmo se já o for.

A duração, frequência e intensidade da dor percebida no estímulo inicial são fatores que quão mais intensos e mais presentes, maior é a probabilidade de o paciente vir a ser portador de dor crónica. Outros fatores – endógenos – como stress, ansiedade, catastrofização do problema, experiências negativas passadas no que concerne a esse e outros problemas de saúde, sono pobre, ser mulher, depressão e uso excessivo de fármacos são fatores que são pró-dor.

A dor crónica é classificada como doença desde 25 de Maio de 2019. É ainda um fenómeno mal compreendido pela população e pela maioria dos profissionais de saúde que no que concerne nomeadamente à dor crónica musculo-esquelética ainda adotam condutas antiquadas e pouco eficientes (por exemplo repouso, repulsa pelo exercício, uso como primeiro recurso e a longo prazo de medicação, pouco envolvimento do paciente na resolução do problema (na maioria dos casos o paciente torna-se apenas um espectador das decisões médicas), dúvidas em relação aos efeitos da terapia manual / osteopatia), que atrasam a resolução do problema, tornando-o cada vez mais crónico e difícil de resolver.

A educação em dor, é uma parte fundamental do tratamento do paciente com dor crónica. Imagine o que seria de um diabético se o deixassem solto numa loja de doces sem saber do perigo que ingerir aquelas iguarias é para a sua saúde…

O desfecho é o mesmo que num paciente que não sabe que pouco ou nada se constata através dos seu exame de imagem e da relação dele com a dor. O paciente que não tem essa informação, vai ficar estressado e ansioso perante a informação do relatório da ecografia ou da ressonância magnética ao ponto de eventualmente passar noites sem dormir. Vai-se movimentar menos pois irá ter medo de se magoar… Isto é a 100% o contrário daquilo que deve ser feito e neste parágrafo falamos de alguns dos principais fatores de risco para ser portador de dor crónica.

Qual o papel da Osteopatia?

A consulta de Osteopatia oferece uma abordagem centrada no paciente, nas suas necessidades, crenças e possibilidades, baseada numa relação de empatia que promove a educação em dor, o movimento e o toque como instrumentos para reprogramar um sistema que está disfuncional e que tem múltiplas causas para o estar.

O papel do Osteopata é ajudá-lo a descobrir a forma mais rápida e eficiente para aliviar essas queixas, com base naquilo que, à luz da melhor ciência disponível, se acredita que é a forma mais correta de tratar a dor crónica primária músculo-esquelética: com movimento e consciência. 

Nota:
Este artigo é um artigo de opinião que mescla evidências científicas com evidências clínicas. Caso queira questionar o autor do mesmo pode fazê-lo através do e-mail info@osteofocus.com

Bibliografia:
  • Chronic pain as a symptom or a disease: the IASP Classification of Chronic Pain for the International Classification of Diseases (ICD-11). Pain, 160(1), 19–27.
  • Dubois, M. Y., Gallagher, R. M., & Lippe, P. M. (2009). Pain medicine position paper. Pain medicine (Malden, Mass.), 10(6), 972–1000. https://doi.org/10.1111/j.1526-4637.2009.00696.x
  • Symptoms of pain do not correlate with rotator cuff tear severity: a cross-sectional study of 393 patients with a symptomatic atraumatic full-thickness rotator cuff tear. The Journal of bone and joint surgery. American volume, 96(10), 793–800. https://doi.org/10.2106/JBJS.L.01304
  • Systematic literature review of imaging features of spinal degeneration in asymptomatic populations. AJNR. American journal of neuroradiology, 36(4), 811–816. https://doi.org/10.3174/ajnr.A4173